domingo, 29 de janeiro de 2012

Bizus sobre criação de personagens - Parte 1

[I will soon translate this post about character design]

Como algumas pessoas (não muitas) vieram me perguntar sobre processos de criação de personagem, decidi fazer alguns posts dedicados a este assunto. E já que faz algum tempo que eu não posto nada aqui, talvez este post tire a poeira do canto da página. Adianto, também, que eu não sou nenhum expert em criação de personagens, muito pelo contrário. Conheço muito pouco deste campo tão extenso de conhecimento, mas compatilho aqui o que, por enquanto, acredito dar certo.



Em primeiro lugar, ao criar um personagem é necessário ter em mente que o desenho é algo mental. Não é a sua mão que pensa  para você, mas a sua cabeça. É interessante ter todas as características do personagem em mente antes de começar a rabiscar loucamente as milhares de alternativas possíveis. Pense neste processo iterativo como uma Engenharia Reversa para revelar o personagem que está prestes a criar. Lembre-se, as possibilidades são infinitas, é fácil se perder sem um mapa para guiá-lo. Caso você não o possua, eis três perguntas cujas respostas acho essenciais para o seu mapa:

1.1) Em que tipo de história o meu personagem está inserido? Comédia, Tragédia, Farsa ou Melodrama?

À primeira vista os gêneros dramáticos parecem assustadores e você provavelmente já está acostumado a vê-los, mas não a classificá-los. Numa definição grosseira as comédias são contos onde o personagem principal obtém um final feliz, as tragédias são contos onde o personagem principal termina mal, as farsas se caracterizam por um personagem principal que ignora a gravidade dos problemas ao redor dele e o os melodramas por um personagem principal cujos sentimentos são maiores do que a narrativa em si. Sim, é uma classificação a partir do personagem principal. Uma história nunca se classifica em somente um dos gêneros mas cada um dos gênero detém um repertório visual bastante peculiar. Logo, conhecendo o principal gênero dramático ao qual o seu personagem pertence, o campo de decisões ao longo da criação fica um tanto mais estreito. Observe as diferenças nos 4 exemplos abaixo:

Comédia - Rebobine, por favor:









Comédias tem harmonias de cor multitonal, saturação pouco mais alta e comumente elementos de cena e de figurino inusitados.















Tragédia - A Estrada:









Já tragédias possuem harmonias mais monocromáticas com variações de valor, uma iluminação menos densa e designs que refletem muito a humanidade do personagem. Este tipo de escolha reflete o destino deveras trágico do personagem principal.




















Farsa - Borat:












Como nas farsas o personagem não é afetado ou distorce os acontecimento da narrativa ao extremo. O visual da farsa é percebido nos elementos ridículos e completamente fora de contexto utilizados na narrativa e nos designs.






























Melodrama - Biutiful:












No Melodrama o visual é centrado nas peculiaridades do personagem, normalmente o visual é simples e reflete esta tendência da narrativa de imergir no universo pessoal do personagem principal, como a aparência mal-cuidada e a expressão triste.























Uma vez que você já tem certeza do tipo de narrativa na qual ele está inserido (e você faz alguma idéia de que filmes, seriados, quadrinhos etc. pegar referências)  é hora de se fazer a próxima pergunta:

1.2) Qual a história do meu personagem? De onde ele vem e pra onde ele vai?

O homem é produto da sua própria história e das escolhas que fez durante toda vida. Estas marcas não estão contidas apenas na sua mente, mas no modo como ele se porta, como se veste e como se expressa. Para entender melhor a aparência do seu personagem você precisa entender os seus medos, anseios, derrotas e vitórias. A começar o seu papel na história, se ele é Herói, Mentor, Arauto, Guardião do Limiar, Camaleão, Pícaro ou Sombra (definidos por Joseph Campbell)

O método que considero mais eficiente para explorar a história do seu personagem é também o mais tradicional. Afinal, para conhecer qualquer pessoa basta perguntar. Porém, o grande gargálo deste método, na minha opinião, é a obtenção das respostas, principalmente quando o usuário tem como base somente as obras que gosta (pior ainda quando são poucas). Criar personagens vai além de basear os seus em outros famosos como Tyler Durden, Shinji, Tony Stark ou o famoso Powdered Toast Man. Para tirar o máximo deste método eis outras fontes óbvias que você pode explorar, mas que geralmente negligencia:

     A) Você mesmo como personagem: Não há ninguém que você conheça mais do que você mesmo. Todas as reações, defeitos, virtudes que você possui carregam uma carga emocional que você consegue expressar como nenhum outro artista. Saiba aproveitar esta visão e emoção no molde de um novo personagem. No final das contas, é uma parte de você que vai estar impressa nele. É necessário observar e agregar valor sempre.

     B) Pessoas que você conhece como personagens: Um dos meus métodos favoritos é obter as respostas imaginando que os personagens são semelhantes a pessoas que conheço. É fácil responder quando se conhece bem aquela pessoa, principalmente quando, como amigo, você possui um ar mais holístico em relação aos acontecimentos da vida do outro.

     C) Estranhos como personagens:  Muitas vezes escutamos histórias engraçadas sobre pessoas das quais nunca tinhamos ouvido falar. Mas são histórias que guardamos durante muito tempo. Ou às vezes algo que você viu na rua ou no trabalho te marca irreversivelmente. Este tipo de experiência agrega muita verossimilhança ao seu personagem.

     D) Personagens da imaginação: Às vezes um pensamento abstrato, um ideal político ou até uma música podem ser traduzidos para um personagem. É um trabalho menos claro, mas se você tiver embasamento filosofico suficiente será perfeitamente capaz de fazê-lo (eu não consigo fazê-lo bem [...por enquanto]).


Esta é uma fase importante que exige dedicação e tempo. Por ser uma fase normalmente negligenciada temos uma série de personagens superficiais sem nada que encha os olhos por aí. Alguns exemplos de pergunta importantíssimos são:

1.2.1) Como o mundo da história o influenciou e moldou?


1.2.2) O quê o personagem faz? Como se sente em relação ao trabalho?


1.2.3)  Quais coisas que mais gosta de fazer? E as que menos gosta?


1.2.4) Que regras compõem sua personalidade e seus costumes?


1.2.5) Quais são suas aspirações, seus objetivos e sonhos?


1.2.6) Quais são seus traumas e pesadelos?


Por último, é hora de saber como traduzir tudo que você construiu visualmente.

1.3) Quais características do meu personagem consigo traduzir visualmente?


Esta etapa pode ser resolvida traduzindo as respostas que você obteve em conceitos mais simples. Ao terminar, provavelmente você vai obter uma lista com várias características visuais do seu personagem.

Exemplo 1:
De "Cresceu numa cidade nas nuvens cujos cidadãos tem como função proteger 3 pedras sagradas" para "monges", "disciplina rígida", "forte tradição religiosa" e por aí vai.

Exemplo 2:
De "De repente nasceu, com 27 anos, de uma cápsula em um planeta desconhecido" para "inocência", "aliens", "descobrimento", "crisde de identidade".

Como provavelmente é uma etapa que exigirá dois passos, basta repetir o procedimento para os resultados, caso eles ainda estejam muito complexos. Por exemplo:

Exemplo 3:
De "monges" para  "aparência pacífica", "roupas de monge", "andar ameno", "bem treinado".


Esta lista deixa o trabalho do desenvolvimento visual bem mais fácil e divertido. Até o segundo post dos Bizus! Nele, focarei mais em desenvolvimento visual e como deixar o personagem interessante.


Segue também uma lista de livros bastante enriquecedores sobre o tema:
Como criar personagens inesquecíveis - Linda Seger
Creating animated cartoons with character - Joe Murray
O Herói de Mil Faces - Joseph Campbell
Characters, emotion and viewpoints - Nancy kress

Os frames dos filmes foram retirados do blog FRAMEFILTER.


Espero que tenham gostado!

Abração!

6 comentários:

  1. vou continuar lendo esses posts. Começou mt bem! ^^

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  2. Vlw, Giselle! No próximo eu vou aprofundar mais em configuração dq em conceituação. ;)

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  3. Tá ótimo o post, Marcelete! Mt esclarecedor e as referências tão fudendo ;]
    =**

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  4. Ahaha! Muito bom! Cadê o próximo?

    Não conhecia o Powdered Toast Man! XD

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  5. Ahh, velho! Vai falar q vc n via Ren&Stimpy :P Vlw, man. Sai hj!

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